quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Odores insanos


          Sou dada a cheiros, odores, fragrâncias, ares. Gosto do gosto amargo daquilo que me deixa doce. Gosto de pimentas ( seu cheiro), daquelas que queimam a garganta. Tenho gosto por paladares fortes, e gente também. Sempre caminho para cheiros incomuns, uns que dão vontade de seguir para ver onde dá. Fico indagando cheiros, tentando adivinhar sabores, o que me evoca tal odor.
Cheiro livros, comida, roupa. Acho que, por isso, invento abraços e indago o cheiro que as pessoas têm. Gosto de exalar também. Meu homem cheira bem, deslizo no cangote para engolir seu cheiro na minha pele. É metideza  querer que o outro exista em mim. Construa seus alicerces em figura semelhante.
Dê de olhar por meio das minhas retinas. Ouça o mesmo som que agrada meus tímpanos. Sorria usando minhas, só minhas expressões, e use a gargalhada com meu timbre. Mastigue, com tamanho prazer, a comida que encanta meu estômago.
Ah, cheiro traz lembranças de dias comuns e de eventos extraordinários. Amo cheiro de vó, de afeto com café, de impressões mal delineadas, que se resolvem com “nossa, que cheiro”. Cada objeto tem seu odor particular, cada ser vivo também. O cheiro é  marca, registro identitário pairando no ar, elevando pensamentos a instâncias bem resolvidas e ainda não experimentadas.
Mas, cheiro de gente cabe bem. Gente que cheira bom caráter, leveza de alma, que é solar, sem nuvem negra sobre a cabeça. Gosto de cheiro de gente feliz, que adora mostrar os dentes, mesmo que um pouco amarelados, que traz refrescância, tipo propaganda bonita de pasta de dente. Cheiro de gente que se descasca, que reflete, ilumina a chegada e deixa vazio quando parte. E se vier com um bom perfume, então, será extasiante...

           Mas, cheiro de livro dança nas ideias que chamo de autoria. Livro traz mares e rios, flores que estão amanhecendo, recados de carinho, gritos de dor, carta de amor romântico e discursos .  Alguns são manuais em mandarim, outros traduzidos em língua recém-criada, outros estão em análise. Caso queira, cheiroso leitor, explico tudo, mas dá cá seu livro pra eu cheirar. 

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Ações para a vida

Desejo a você, leitor, um ano cheio de possibilidades e vontades lindas. Vão aí algumas ações que tenho certeza que te ajudarão:
Promova a paz em si mesmo para que sua luz brilhe nos olhares alheios.
Seja sincero com suas verdades e acredite em suas inspirações.
Não se esqueça de contemplar a sua face mais profunda para que sempre encante a alma.
Seja o aprendiz da felicidade para que dissipem regras e construa novos universos .
Adorne a tua casa com as flores e perfumes que inebriem a quem adentrá-la.
Fuja de pensamentos acinzentados e que provoque zunidos em suas escutas.
Não adormeça suas melhores partes, nem as tornem fragmentos demais.
Escureça doenças da alma e dê cores às ideias fomentadoras.
Agregue pessoas e manifeste seu afeto por elas.
Leia bastante para que sua mente e sua alma estejam bem alimentadas.
Seja solidário a seus desejos e projetos. Realize sonhos!
Cuide do seu maior bem: a sua existência.
Ore com profundidade. Conecte-se com Deus.
Ame com toda coragem e certeza. O amor não se contenta com migalhas.
Doe tempo a você. Passe mais momentos com sua companhia. Fará muito bem.
Retire o pó e o ranço do cotidiano. Invencionices criam perspectivas.
Seja tolerante. Invista em paciência. Mas, engolir sapos e demais anfíbios com frequência causa muito mal ao estômago e ao coração.
Tenha estrela no olhar. Isto retirará as casquinhas das banalidades e o intitulará indivíduo e humano.
Carregue muita poesia no bolso e no coração. Precisamos de essência, emoção e beleza.
Não espere demais. Não crie expectativas demais. Isto gera frustração. Melhor desarrumar algumas malas.
Tenha sorriso grudado na boca, lágrimas armazenadas nos olhos e leveza no coração. A vida traz fardos que carregamos, melhor termos um coração iluminado no amor e nos sonhos.
Acredite! Você pode amanhecer todos os dias a esperança e desejá-la um bom dia!

* Texto publicado no Jornal Espírito Santo de Fato

Nas pedras e roseiras


Nestes últimos meses, viver tem se mostrado uma façanha pra lá de incrível. Vemos que os aumentos ( dos preços) dos serviços e produtos tornaram-se um agravante para que desanimássemos um pouco sobre o presente e futuro. Ainda, vemos um ser humano cada vez menos ser humano, dotado de sentimentos negativos e uma competição desenfreada para que alcance poder, dinheiro e status a qualquer preço. Sim. O quadro apresenta-se difícil, porém, costumamos dar, sempre, à volta por cima e fazer de um limão uma gostosa limonada.
Viver é precioso demais. Somos o melhor presente da vida. Peça única, que nunca deve ter liquidação. Mesmo diante de dilemas corrosivos, que cortam a carne e a alma, somos capazes de cicatrizar e, mesmo com a marca, seguir radiantes e mais belos ainda. Já dizia Rubem Alves que “ostra feliz não faz pérola”, já que para criação da pérola é necessário ter um ser estranho dentro de si( ostra) , sendo tal “joia” uma reação natural contra invasores. Logo, tal beleza, de valor altíssimo, surge de um processo dolorido.
Não é diferente de nós. Só atingimos crescimento e nos tornamos menos fracos à medida que sofremos os embates. Quando somos postos à prova e temos que reagir na tentativa de soluções e mudanças. É, neste momento, que vemos o quanto somos capazes e sensíveis a uma postura diferente, modificando nossas ideias e atitudes. Ninguém é feliz na dor, mas ninguém cresce em um jardim florido e perfumado. Já disse, em um dos meus textos, que somos criados nos contrastes; sabemos definir e querer o bem porque alguém já nos fez muito mal, gostamos do calor porque os frios doeram os ossos.
Cora Coralina poetiza que a vida tem duas faces: positiva e negativa, sendo lutas e pedras lições para que saibamos viver. Logo, rasgar as costas nas paredes da vida e furar dedos em espinhos nos fazem mais sábios e melhores. O sangramento, as agonias e os caos que selarão nossos modos de olhar e compreender a existência.
Se a janela não se abriu hoje, abrimos portas, quebramos paredes e vemos de orifícios e de grandes buracos o Sol e a chuva que sempre se aproximam. Se nada funciona da forma que sonhamos, conversemos mais com Deus, leiamos muito mais poesia e ouçamos aquelas canções que nos arrepiam, nos fazem fugir um pouco das rudezas diárias. Mas, viver é indispensável!
Sorrir é maravilhoso. Chorar lubrifica a alma. Dançar aquece e aproxima o corpo do outro e de você mesmo. Trazer lembranças lindas, de viagens, de festas, de um momento único, traz flores para um jardim, às vezes, esquecido. Abraçar é estar junto e se doar. O beijo sempre inebria. O elogio reinventa possibilidades. O toque nos amacia. Valorizar quem está com você é uma forma de dignificar parte de nós. Mesmo que haja crises, cortes, falas de desesperanças, não se ofusque, nem turve sua vida com canalhices de gente sem cor e flores na alma. Faça como Cora, “ recrie tua vida sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.”



* Texto publicado no Jornal Espírito Santo de Fato