sábado, 23 de junho de 2018

Trouxe para dentro de mim afetos tão antigos e inovei minha velha forma de pensar.
Sou humana demais para não errar e bendita para dizer.
Tenho o vento trazido na cara e mantenho aquela flor seca no meio do livro.
Tenho intenções gigantescas e sonhos que nem sempre dobram a esquina.
Às vezes, teimo em deixar para lá e em outras considero todas as linhas.
Reservo tratados com a sorte e a vida e rabisco as melhores pretensões.
Sou dada a espelhos e lamento minha face não está em seus melhores dias.
Orgulho-me dos feitos e não negligencio as falhas que brotam sempre.
Gosto de mim nos sorrisos, mas tenho ambientes mofados.
Sou tantas partes. Sou tão pouco. Sou a poeta-mulher entre traços e destroços, vertentes sinalizadas e caminhos escuros.
Vulcão que insiste viver.
Simone Lacerda

sexta-feira, 15 de junho de 2018

Uma literatura crônica


Meu coração anda transbordando estes dias. Estou cheia de emoção e amor que andam
escapando pelos poros, pelas palavras, pelos olhos e coração. Minha escrita sempre
caminhou comigo, embora, de tempos em tempos, costumo deixá-la mais a margem,
deixo de regar a alma e assim ela entra num estado de secura, esgotamento e rugas.
Mas, neste momento, tenho deitado as mais robustas e belas palavras ao meu lado, em
um enamoramento apaixonante. Ela traz para perto experiências singulares e pessoas
que desejam a literatura em abraço.
Nesta semana de lançamento do meu primeiro livro Arame farpado, encontro-me em
espírito de gratidão, de convencimento na crença do divino- Deus- na tolerância quando
sinto que tantas coisas me escapam e no respeito às minhas frestas e lacunas que sei
jamais se completarão. E isso também me permite dizer porque estou desejando e
esperando.
A ausência se converte na minha poesia, na forma de não dizer as coisas e, por tantas
vezes, acaba aflorando e sobressaltando o outro nas palavras que mais sugerem do que
definem. Aliás, não quero sentenças e amarras. Quero que o rio escorra, o verso ecoe e a
alma se misture a vida, faça massa, cresça o bolo.
A literatura é a forma que existo, mistifico o improvável e crio casos de amor e de ódio
com a existência. Há um estado de simbiose poética entre nós, o gozo de corpo e
espírito. Ela é a parte mais linda que fomento, é a voz macia que toca meus ouvidos.
A literatura é indispensável para tornar a vida mais suportável, com menos ressacas e de
esperanças amontoadas. E isso me alimenta, abastece as emoções e revigora o que tem
ressecado. Arame farpado é a presença do corpo poético, é a forma que mantenho
cravadas minhas perspectivas e minha contemplação para o sujeito.
Sou grata na alma e no coração porque há a arte e os leitores que me leem
semanalmente. Àqueles que torcem profundamente a cada conquista, que misturam
minhas palavras as suas, que solidarizam com meu discurso e o evocam em tantos
outros.
Meu “filho parido” voará em outros mundos como todo filho que se amplia, se desloca, se
propaga. É assim que o sinto…a cria já desmamada e que, neste momento, já dá seus
passos. O legado de uma obra literária se estende no outro, nos hemisférios e cenários
criados a partir do encontro do leitor com as verdades e as emoções transfiguradas em
palavras. Sou agraciada por ter a preciosidade da poesia.
Obrigada a todos vocês leitores pela generosidade e pelo afeto.

Data: 28 de outubro de 2017.