Potes de
Ouro
Queria começar este texto parabenizando-nos
por mais um começo de ano. É...conseguimos chegar até aqui. E olha que sofremos
bastante nesta viagem; naufrágios, marés altas, apegos e arrependimentos, mas
conseguimos um porto. Parabenizo a nós também por toda nossa capacidade de
superação mesmo, pois, achando que não conseguiríamos abrir a porta ou subir as
escadas do porão, chegamos à entrada principal e pudemos, como nas festas,
recebermos os nossos convidados e, enfim, sermos bons anfitriões.
Não é fácil superar. E sentencio
essa palavra como peça-chave para iniciarmos nosso ano. Superamo-nos todos os
dias quando nos dispomos acordar e lançar novas possibilidades. Quando
realmente desejamos e nos enveredamos por novos caminhos, novas passagens.
Superamo-nos quando acreditamos de novo que podemos amar, entregar-nos e deixar a brisa correr por nossa
janela. Superamo-nos quando queremos o novo e investimos nisso nosso tempo, nosso
esforço e nossa fé.
Reavaliar-se não é tarefa feita
apressadamente. Nem tão pouco uma ação desavisada, feita” nas coxas”, sem analisarmos vertentes e
diagonais. São necessários morrer muitas coisas , enterrar destroços para que o
navio parta, siga a viagem prevista. É indispensável subverter o passado ou o
que nele te contamina e entope as veias.
Sem desprendimentos, não há superação. Não há urbanização das estradas de chão,
não há construção de casas ou sua possível reforma. Enfim, meu querido leitor,
não há a produção da vivência humana.
Somos humanos porque somos capazes
de nos apresentar no hoje melhor que no ontem. E, por tudo, somos superáveis
para amanhã. Sem reinvenção, não há criatividade e ciência. Sem novas
envergaduras, o sujeito definhe-se, agoniza e passa a ter doenças inflamatórias
e crônicas na alma. É, somos um ser sempre no acabamento. E, nisto, vejo nossa
riqueza, nossos potes de ouro. Sim... temos milhares deles em nós. E só vemos
isso quando nos superamos, quando sentenciamos que não há uma única sentença,
uma única escrita.
Então, leitores, vivemos, apaixonemos
pelas nossas possibilidades, pelo ”refazimento”, pelo nosso mundo que ora
declina ora se ergue. Nessa linha, a história já nos conta: os povos, poderes e
governos também são superados; e outros se inventam no lugar. Temos história,
literatura, artes, etc., porque nos superamos, recriamos espaços e culturas.
Claro que somos frutos de solidificações, bases construídas, porém, nossa
humanidade é fruto de várias árvores, raízes, chuvas, ventos e sóis.
Espero que, neste ano, você e eu
consigamos nos superar e contaminar outros com nossas reescrituras. Comece
fazendo coisas adormecidas ou jamais mexidas, como ler, passear e conhecer
lugares com quem se quer por perto, rir mais alto, fazer cafuné, ouvir boas
músicas, conhecer a história de sua cidade e país, acreditar mais em si. Sem
dúvida, aumentará seus potes de ouro, que dimensionará ainda mais seu brilho.
* texto publicado no Jornal Espírito Santo de Fato - 09 de Janeiro de 2015