Entre
ventos e varanda
Ela
nunca foi dada à felicidade gratuita. Sempre haveria um porquê para tamanha
felicidade e infelicidade também. Não era leviana em seus discursos nem
displicente com suas emoções. Sabia, em todos os ângulos, aonde chegaria e em
que moradas seu coração iria permanecer.
Nada
de suavidades, tecido fino, veludo enrolado no corpo. Tinha agulhas, pregos e
inchaços na alma. Não era covarde com o desconhecido nem com o que guardava
dentro de si. Era danada demais para cicatrizar e, vez ou outra, entrava em
erupção. Sabia que não pernoitava no comum. Era sensível, explosiva, presente,
vigorosa.
Ela
não considerava as conversas atravessadas como bobagens. Aliás, bobagens
ganhavam refinamento em sua fala abusada, sem grandes talentos, mas com propriedades.
Tinha força o que dizia, mesmo que enigmática e inconstante.
Sentava
na varanda, naquelas tardes que ninguém espera, de vento pomposo e folhas ao
chão. Mesmo que não brotasse alento, apreciava o que de bom trazia a natureza e
seus hemisférios desconhecidos. Era bastante olhar como se nada viesse, como se
o mundo tivesse seguido o curso e ela, ali, intacta, roendo-se em dilemas.
Seus
membros enraizavam-se naquela varanda. Ficava em vigília consigo mesma. Era uma
espera desmarcada, sem pressas para que, em minutos ou séculos, tudo -ou quase-
resolvesse. Seus devaneios persistiam sublimados. Permaneciam.
Ela,
mesmo calada, causava ebulição em seu espírito efervescente, mirabolante. Sua
palavra não lhe causava todos os dias a mesma comoção, nem lhe ofertava
conforto. Tinha o intuito de seguir mesmo que hiatos andavam em sua cabeça.
Nada
de responder mensagens, e-mails, ataques pessoais, frasezinhas de carinho, acenos
gratuitos. Nesses dias, queria o silêncio dos conflitos, a ausência das
intenções. Desejava o mundo inteiro em um breve segundo e segregava, por alguns
momentos, o melhor dos dias. Era danoso persistir, querer. Inflamava-se.
Nada
de comoção ou abandono. Nada de plateia e bilheteria. Queria sobreviver, mesmo
que os dias fossem alternados, mesmo que sua felicidade não ganhasse rotina e
dias pares. Era preciso respirar, ganhar oxigênio, destampar o que estava
lançado no poço.
Ela
não queria cenários de domingos, nem semear o improvável. Sua alegria tinha
data e hora, tinha casa, Sol, nuvem e estrela encantando o céu. Sinalizava,
agora, que felicidade também se equacionava.