Dei
para admitir que saudade é sentimento que cresce. E que esperança é o
vislumbramento de um dia menos doído. Caço palavras que comportem emoções em
meu peito para que tenha o que colher e ofertar como possibilidade. Nada de
sacralizar o que não tem encantamento e propagar vozes ecoadas, sombras de um
discurso, talvez.
Ter
vontades de amor é a aversão do medo, da ausência que permanece sempre. Gosto
de tornar-me afeto e desejo de quem busca um novo olhar e uma poesia que salte
ao peito. De quem me desenhou por perto, mesmo que por horas ou por uma vida de
tantas décadas.
Sou
poeta de vocabulários e de desdizeres, do que é inaudito e costurado nas
camadas do coração. Tenho perplexidades e lucidez, guardo receios e gosto de
comungar com as linguagens, com o que é evocado quando se sente. Nada de
camuflar sentimentos e do que pulsa aos berros na alma. É preciso dizer o que
há possibilidade de ser sentido.
Não há
vida e amores sem humanidade e existência, embora muitos só se permitem viver.
Não se declaram e não se prescrevem. Não se delineiam nem tão pouco constroem.
Não escolhem caminhos e não invadem fronteiras. Só ali, na beira, na espreita
de um sentimento linear e vago.
Se há
entraves, que perpassemos e sejamos tantos nós. Deixemos a verossimilhança e
avancemos as vertentes, sejamos mais amor e tenhamos mais amor. Sejamos o que
não propusermos ser e idealizemos em outros cenários, acreditemos no fomentado
pela emoção, pelo acaso, tão importante para que desconstruamos o óbvio, a
casca mofada, a fatura admitida na vida.
Tenhamos
o poema reinventado de uma vida menos burocrática. Sejamos a voz e não coro.
Negligenciemos o envelhecimento dos sonhos e das vontades. Desejemos mais e
mais mil vezes. Abrilhantemos nossos olhares e sorrisos para o melhor de nós.
Nada de orações sem afluentes e poética ressequida por espírito sem gozo. Nada
de subterrâneos e departamentos. Deflagremos os vazios.
Agora,
que tenhamos o desejo e o objeto. Vivamos, embora em desamparos, a alegria das
chegadas e partidas, e a melhor manhã de todas. Cresça nosso jardim e nossos
versos cadenciem uma vida repleta e cheia de inconstâncias. Uma vida que morra
e nasça tantas vezes sejam necessárias e importante.