Com licença, mulher!
“Quando nasci um anjo esbelto,/desses que tocam
trombeta, anunciou:/ vai carregar bandeira./Cargo muito pesado pra mulher,/esta
espécie ainda envergonhada”. Começo
este texto, com o excerto poético de
Adélia Prado ( Com Licença Poética), com a intenção de tratar de um assunto do
qual me sinto bem à vontade: o universo das mulheres.Gosto de poetizar tal
questão sem esquecer o gosto crítico também.
Acredito que, nós, mulheres, conseguimos nos desvencilhar de
muitas questões que nos oprimiram por muito tempo, conseguimos romper muros tão
bem construídos para que não ultrapassássemos ou quebrássemos à força.
Conseguimos decretar, a duras penas, nossos gostos, desejos e objetivos,
embora, ainda, estejamos inaugurando estradas e alicerces.
Lutamos demasiadamente pela liberdade de comandar nosso próprio
corpo e, o que é melhor, nosso cérebro, emancipando-nos enquanto atrizes reais de nossa própria história e recriando universos, antes
tão masculinizados. E, com um toque
feminino, ficaram bem mais bonitos e elegantes.
Embora nosso cargo ainda esteja pesado e tenhamos que hastear
muitas bandeiras diariamente, sinto-me orgulhosa e desafiada a prosseguir com
todas as conquistas, tentativas e lutas assumidas pelo ser delicado, porém
forte demais. Parafraseando Caetano Veloso, sabemos, bem, a dor e a delícia de
ser quem somos ( música Dom de Iludir).
E, ao longo da história, sabemos que a “guerra” feminina para a sua expansão não foi ação desavisada.
Dado isso, podemos vislumbrar seus desdobramentos na
contemporaneidade. Hoje, infelizmente, a figura feminina tornou-se refém de
muitas questões. Ao observar as mídias, vemos uma cobrança exacerbada para que
essa personagem caiba em padrões de
estética incabíveis, deflagrando-se como um objeto para saciar o consumismo
imposto pelas indústrias.
Ainda, vemos uma mulher que deseja, a qualquer custo, colocar-se
nos mesmos patamares masculinos há um tempo tão criticados por nós mesmos.
Acredita-se que, cometendo os mesmos “vícios”
presenciados em alguns homens, será capaz de alcançar a tão querida
igualdade. Homem e mulher são ricos nas suas diferenças e nuances. Devemos
lutar por direitos igualitários sim, referindo-se ao nível intelectual,
acadêmico, profissional e político, porém, tenho presenciado muitas mulheres se
perderem nessa condição de igualdade, lançando-se, muitas vezes, nos
precipícios da promiscuidade, imoralidade e desencantamento.
Lanço-me, então, aos questionamentos acerca das nossas conquistas
e o que algumas mulheres têm cometido, contrário a tudo que bravamente
alcançamos. Não pretendo legitimar questões morais até porque cada ser humano
arca com as suas ideias e atitudes. Todavia, desejo alinhar a discussão ao
papel da mulher para a condução da humanidade e aos embates femininos assumidos
no decorrer do processo social, maximizando nossa importância para que haja uma
sociedade justa e igual, sem nos perder em discursos pseudofeministas e
midiáticos e sem perder nossa delicadeza, tão particular e encantadora.
* Texto publicado no jornal Folha do Espírito Santo - 30/01/2015.