Tão
Clariceana
Não me faço de
rogada. Costumo me traduzir em algumas tardes, representar coisas de
Clarice (Lispector) e sei que amo com desatenção. E quase todos os
dias me encho de tarefas para dizer que nada me faz falta. Tenho
linhas exageradas e acho o amor uma espécie de clausura e
permissividade. Um contorno de canalhices e bravuras. Tenho
encontrado recompensas por conta disso, mas tenho cortes por todos os
níveis do corpo. Esbravejo conquistas e digo verdades em
confessionários. Sei das insignificâncias e das pluralidades.
Permito tédios visitando meu lado como garantia de abandono. Como
exatidão dos meus medos. É fórmula equivocada amar demais, é
palavra embalsamada em doses de egoísmo e esperança. Pago, sem
repreensão, meu preço. E o mercado tem andado caro demais. Deve ser
crise de gente mal amada, alcançada e insegura. E aprendi
acrescentar. Gosto de ver bolo crescer e não quero que o afeto sole.
Sei que tenho imprevisibilidades. E que não apresento garantias. Sou
poeta e trago palavras escondidas no bolso, nas bolsas, onde é
difícil achar alguma coisa. Elas estão lá. Há dias que aprecio
falá-las ou registrá-las sem encomenda. Meu amor costurei nos
fonemas e nas rimas achadas. Sou de dizer aos berros e na maciez do
ouvido. Tenho marés e sou de lua cheia escapando do céu. Sabe, seu
moço, trago felicidade, também. Talvez, meio desafinada, e tão
bonitinha. Seguindo a linha do meio ou nas precisões das calçadas.
Correndo em maratonas e em passos cadenciados. Ser poeta, meu caro, é
coisa de gente feliz, desajustada, e que ama em estado permanente.
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