segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Tão Clariceana


Não me faço de rogada. Costumo me traduzir em algumas tardes, representar coisas de Clarice (Lispector) e sei que amo com desatenção. E quase todos os dias me encho de tarefas para dizer que nada me faz falta. Tenho linhas exageradas e acho o amor uma espécie de clausura e permissividade. Um contorno de canalhices e bravuras. Tenho encontrado recompensas por conta disso, mas tenho cortes por todos os níveis do corpo. Esbravejo conquistas e digo verdades em confessionários. Sei das insignificâncias e das pluralidades. Permito tédios visitando meu lado como garantia de abandono. Como exatidão dos meus medos. É fórmula equivocada amar demais, é palavra embalsamada em doses de egoísmo e esperança. Pago, sem repreensão, meu preço. E o mercado tem andado caro demais. Deve ser crise de gente mal amada, alcançada e insegura. E aprendi acrescentar. Gosto de ver bolo crescer e não quero que o afeto sole. Sei que tenho imprevisibilidades. E que não apresento garantias. Sou poeta e trago palavras escondidas no bolso, nas bolsas, onde é difícil achar alguma coisa. Elas estão lá. Há dias que aprecio falá-las ou registrá-las sem encomenda. Meu amor costurei nos fonemas e nas rimas achadas. Sou de dizer aos berros e na maciez do ouvido. Tenho marés e sou de lua cheia escapando do céu. Sabe, seu moço, trago felicidade, também. Talvez, meio desafinada, e tão bonitinha. Seguindo a linha do meio ou nas precisões das calçadas. Correndo em maratonas e em passos cadenciados. Ser poeta, meu caro, é coisa de gente feliz, desajustada, e que ama em estado permanente.


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