Nos Descaminhos da Humanidade
Nunca estivemos tão sozinhos com mais de sete bilhões de
pessoas no planeta. A humanidade está afundada no caos, consumindo fast food e vomitando solidão e dor. Caminhamos entre tantos, mas sofremos de depressão.
Todos os dias nos bombardeiam com notícias de calamidade e
opressão...e nos embalamos nas canções de violência. Já dizia Guimarães Rosa
que viver é perigoso, acho que viver está um pouco pior. Não acreditamos na
fala do outro, dormimos, literalmente, com o inimigo e convivemos com as
vestimentas de hipocrisia do amigo.
Banalizou-se tudo. O afeto, a amizade, a família, o amor.
Estamos dirigindo em uma estrada estreita, desnivelada e à beira do abismo. Se
não mantemos a direção e o equilíbrio ( sabe-se lá como) , somos engolidos e
sugados pela superficialidade. Uma casca fina que cobre nossa consciência.
A danação humana está marcada nas notícias de sangue na TV,
nas reportagens de corrupção e na anestesia social que se enraizou em nós.
Acostumamos ver o outro sofrer nas ruas
e calçadas, nos drogados que nos assaltam e o que é pior com a nossa
passividade.
Somos engolidos pelos dilemas e conflitos que moram em nós e
que todos os dias buscam novos lares. Aceitamos o sofrimento como penitência ou
nos dilaceramos no consumo super e mega capitalista para amenizar o mal.
A humanidade, desculpe o pessimismo, rasteja, mas não grita.
Sua voz foi silenciada entre falta de tempo e de coragem. Tornamo-nos seres
imprecisos e desimportantes. Não nos denunciamos nem poetizamos o outro com
esperanças. Aliás, desse tecido estamos tirando linha após linha.
Vende-se a expectativa que faz parte. Faz parte nascer e
morrer, mas agonizar não. Agonizamos, é verdade. Não vemos esperança ,
paciência e respeito brotarem, como ainda teimam as flores. Do nosso jardim ,
vemos somente galhos secos e ervas daninhas.
Estamos doente de humanidade. O outro é o outro, pensam
muitos, não faz parte de mim. Isolamo-nos e perecemos. Recortamo-nos e não nos
reinventamos. Morremos do pior jeito: ainda em vida. Deixamos de acreditar
porque nos disseram que não tem mudança...uma continuidade que nos mata.
Nunca tomamos tanto remédio. Para ser feliz, ter fé, dormir e
acordar. Medicamos o corpo, e a alma? Não temos comprimido para nos fazer amar
e ter felicidade. Afugentamos nossas indagações com obrigações de beleza,
passeios e postagens nas redes sociais.
Estas por sinal sentenciam nosso caos e desordem. Ali,
desenhamos a alegria, os amigos e maximizamos as fotografias como forma de
minimizar nossa tristeza tão presente. O virtual passa a conduzir nossas
andanças, pensamentos toscos e banalidades. Ele , muitas vezes, ampliam nosso
vazio, nossa falta de discurso , nosso profundo silêncio.
Nos emudecemos e murchamos. O homem pós-moderno calou-se.
Nessa ambiência, acostumou-se a trocar sempre seus móveis e sentimentos de
lugar. Acostumou-se a anestesiar sua dor com remédio, compras e facebook.
Talvez, tente gritar , balbuciando baixinho para não se tornar desagradável .
O enfrentamento foi trocado pela acomodação. Políticos sempre
roubam, o mundo está violento, temos que colocar grades na casa, não quero
votar, ele não aprende mesmo são alguns discursos que prevalecem em rodas de conversa e no pé do sofá. Somos
individualistas porque se tornou mais fácil ....para evitar o sofrimento, para
não se iludir, para não chorar. A falta de sensibilidade nos dá conforto, nos
livra, por algum momento, da dor, porém, coloca-nos cada vez mais superficiais
e baratos. E eu, sim, acredito ainda, que o sujeito, indivíduo, cidadão, humano
é tão caro, tão valioso.