A
dor no corpo é sacrilégio da alma, e da angústia reinventamos
nosso caos, nossa prece nem sempre santa. Somos dogmas fragmentados e
dosagens de virtudes nem sempre bem sucedidas. E, na desordem,
depositamos falsas esperanças de quem sabe amanheceremos menos
danosos.
O
caos revigora as instabilidades instituídas em um mundo tão
estranho e contemporâneo, o espaço instalado no vazio e na ausência
que se perpetuará em qualquer espécie, em qualquer esfera, em
qualquer sujeito. Somos danosos demais para não subverter o provável
e o condicionante.
Perdemos
os amparos e os subterfúgios e inauguramos uma turva compreensão
dos sentidos. E que sentidos são estes? O que sentenciamos para a
vida? O que esperamos nascer? Tantas lacunas e tantos vãos na
existência, tantas problemáticas e os reversos depositados em
nossas moradas. Andamos demais e não há espera. Ou esperamos em
cenários extasiantes.
E,
nestes errantes e problemáticos caminhos, segue o homem e seus
resquícios de humanidade, tão rareada e negligente. Uma humanidade
que tem causado danos insustentáveis e irreversíveis a seu espelho,
às suas partes presentes nos outros. Somos cascas dissolvidas em
soda cáustica, líquido viscoso e imprecisões momentâneas.
E
perambulamos, calcificamos sonhos e rasgamos os tecidos que nos
cobririam de uma possível felicidade, nos confortariam nos dias
mais chuvosos e de aspecto mofado. Comemos do fruto mais proibido e
mordemos a fruta mais roxa, menos úmida e de aspecto putrificado, a
que nos causarão as sensações mais nauseantes.
E
nestas vertentes, sombreadas e endurecidas, encaminhamos nossas
crendices e verdades, sutis e sufocantes, serenas e “terremóticas”.
Somos humanos demais para não investir e angustiantes demais para
não querer. Somos desejosos de vida, e que esta seja abundante nas
vielas, parques e universos.