sexta-feira, 26 de maio de 2017

A apocalítica humanidade


Resultado de imagem para imagem apocalíptica
A dor no corpo é sacrilégio da alma, e da angústia reinventamos nosso caos, nossa prece nem sempre santa. Somos dogmas fragmentados e dosagens de virtudes nem sempre bem sucedidas. E, na desordem, depositamos falsas esperanças de quem sabe amanheceremos menos danosos.
O caos revigora as instabilidades instituídas em um mundo tão estranho e contemporâneo, o espaço instalado no vazio e na ausência que se perpetuará em qualquer espécie, em qualquer esfera, em qualquer sujeito. Somos danosos demais para não subverter o provável e o condicionante.
Perdemos os amparos e os subterfúgios e inauguramos uma turva compreensão dos sentidos. E que sentidos são estes? O que sentenciamos para a vida? O que esperamos nascer? Tantas lacunas e tantos vãos na existência, tantas problemáticas e os reversos depositados em nossas moradas. Andamos demais e não há espera. Ou esperamos em cenários extasiantes.
E, nestes errantes e problemáticos caminhos, segue o homem e seus resquícios de humanidade, tão rareada e negligente. Uma humanidade que tem causado danos insustentáveis e irreversíveis a seu espelho, às suas partes presentes nos outros. Somos cascas dissolvidas em soda cáustica, líquido viscoso e imprecisões momentâneas.
E perambulamos, calcificamos sonhos e rasgamos os tecidos que nos cobririam de uma possível felicidade, nos confortariam nos dias mais chuvosos e de aspecto mofado. Comemos do fruto mais proibido e mordemos a fruta mais roxa, menos úmida e de aspecto putrificado, a que nos causarão as sensações mais nauseantes.

E nestas vertentes, sombreadas e endurecidas, encaminhamos nossas crendices e verdades, sutis e sufocantes, serenas e “terremóticas”. Somos humanos demais para não investir e angustiantes demais para não querer. Somos desejosos de vida, e que esta seja abundante nas vielas, parques e universos. 

quinta-feira, 11 de maio de 2017

De algum lugar ( ou lugar nenhum), 11/05/2017.


Resultado de imagem para fotos de carta
Caro amigo,
É com ar de lamúria- e excesso de cansaço existencial- que proponho dizer a você o que anda acontecendo conosco. O que temos “engolido” e, indispostos, temos estado em náuseas e enjoos de uma vida nada amena.
Nossa política tem sujado a bandeira-pátria. São algozes e mercenários a favor, não da sociedade e Estado, mas de seu próprio umbigo. São maníacos do poder egoísta e nefasto, que desejam, somente, saciar seus desejos mais sombreados e sorrateiros. São desejos que sujam de sangue e de mau-caratismo o que restou de democracia e de construção social igualitária e altruísta (esta desconhecida por eles).
Meu amigo, vivemos um jogo lascivo de intolerâncias e pseudo liberdade, no qual somos julgados e retalhados ( com cortes profundos) por pensarmos e agirmos às margens. Por estarmos de encontro ao que querem dizer com nossas vozes.
Eles consideram inviáveis “estar fora da caixa” e relativizar dilemas, reflexos e seus espelhos. Para eles, considerar é apenas suposição e, segundo suas ordens, os critérios devem estar estabelecidos, sem qualquer hipótese de deflagração.
Caro, não tem sido fácil andar por entre as pólis, navegar em mares não navegáveis e divagar sem nenhum peso. O fracasso é, para eles, a assinatura de canalhice e covardia, não mais o que tantas vezes consideramos até em canções e poemas o reverso das velhas andanças. Não mais as tentativas de aprumar o barco nem uma nova possibilidade.
É danoso estar entre tanta gente barata, que se dispõe a dar seu preço em relações que são desenhadas como negócios e construções de impérios. Ter que inventar um sorriso enquanto a alma agoniza ensebada de frustrações por apoteóticas intolerâncias e fantasias de respeito.
É amigo, sei que sua ausência é pernoitada em minhas sensações. Reclamo sua presença porque a inviabilidade de jardins e seus perfumes tem se mantida pulsante em minha emudecida existência. Minha voz tem se calado e o silêncio tem sido, constantemente, o som mais alto e rompante que costumo ouvir.
Estamos, neste tempo, revestidos de um anestésico que é capaz de diminuir nossos batimentos, desacelerar o que corre nas veias e retardar nossos propósitos. Assumo estar enclausurada por estes portões e me mantido entre as cortinas que, muitas vezes, é o meu único esconderijo.
Continuo, aqui, esperando sua volta, embora tenha uma certa compreensão de que seu momento não virá; você continuará perplexo em seu próprio cenário esperando que os homens recuperem a memória de seu tempo, que ficou tão perdido. Ah, continuo desejando uma poesia que acorde todos eles. Desculpe por ainda acreditar.
Um abraço na sua alma que me inspira.
Simone