quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Eu sou aquele que disse: ninguém vive por mim



“Fui procurar viver além de mim” Sérgio Sampaio

Tantos recados esquecidos em gaveta, poesia com poeira, livros em decomposição e gente se desmanchando em náuseas e no mundo comum. Os troféus por uma vida tão óbvia e improvocante são distribuídos sem senhas, a preço de mercado e, por vezes, tão popular. Cansada  de correr paralelo ou na direção sinalizada como não.
Ando desnuda de discurso que entorna, gente que descostura outros cenários e invade meus preceitos e me devolve um pouco de caos, da desordem necessária para que sejamos uma nova edição. Extasiada por tantas mortes mesmo que a vivência mantenha o contrato, mesmo que o cotidiano continue insistindo. Vertentes sampaianas me assombram e denunciam que não há certezas maiores que a desconstrução.
Esta pós-modernidade me toma e alimenta minhas insistências em querer muito mais que um pouco, muito mais que um corte. Veias sobressaltadas, coração em sinestesia, tremuras existenciais anunciam que há muito mais. Versos poetizam que palavras subvertem, músicas cadenciam que tons e melodias provocam, prosas me tomam e escorregam para o outro.
Nada de vida impostora, céu desbotado, gente de graça por aí. Chega de amores mudos e de vozes em coro, chega de poesia posta para dentro, chega de homens esgarçados e alegrias guardadas em caixa. Gritemos amores aos berros, pintemos outros mares e outros céus, tenhamos a poesia na calçada e na fala abusada, sejamos os menos sórdidos e mascarados mortais.
É preciso fugir do espírito de manada, dos vieses impostas nas vozes, dos mofos verdes depositados nos fraques e nos vestidos de seda, da burocracia das verdades, dos cumprimentos para exposição em jornal, do discurso sorrateiro que promulga o que me condena ou me liberta. Quero dessacralizar o que nem posso dizer, os muros inventados para que eu não pule ou  quebre. Quero retirar meus abutres e liquidificar minhas canalhices.
Desejo o não sentenciado e preciso. Não quero afundar minhas amarras e, do oceano profundo, mantê-las entre ouriços e a danada covardia. Viver é querer o avesso, o anteposto e porvir. Nada de almas penosas ou sorrisos amarelos e envelhecidos, nada de ausências anoitecidas e conteúdos prováveis.
Quero a arte reinventada na praça e nas bocas dos artistas. E, de tanto dizer, haja o que pensar. Quero a música colorida nas roupas de inverno, nos homens que dançam sem receio do mundo. Desejo as verdades fora das prateleiras e ditas no povo, os dizeres sem encardimentos e as memórias reeditadas. Eu quero e desejo a não-morte da vida imensurável.

                               ( A arte não morre) 

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Alma poética


Quando eu sair deste quarto sem sol,
ficarei bem.
Quando as marés passarem
e as ondas pararem de bater sobre minhas costas, provocando náuseas,
ficarei bem.
Quando as dores do mundo perderem suas forças,
ficarei bem.
Quando os espinhos se dissolverem de meu corpo e
as paredes não forem ásperas,
ficarei bem.
Quando meus olhos já não marejarem ao som da sua voz,
imponente e solitária,
ficarei bem.
Quando minhas veias não sobressaltarem à minha pele
e intervirem nas minhas mais tenras sensações,
ficarei bem.
Quando violentamente meu coração não se juntar à minha alma
e pulsar em minhas arestas,
ficarei bem.
Quando já puder escrever poemas sem palavras esquizofrênicas,
ficarei bem.
Quando sorrir sem estranhamento,
e eu lembrar dos seus cenários,
dos seus espaços em branco,
ficarei bem.
Quando minhas emoções não se contorcerem
e atearem fogo em minhas entranhas,
ficarei bem.
Quando sua presença resistir a tudo,
e o afeto pernoitar em meu espírito,
ficarei bem.
Quando seu mais bonito amor e coragem atravessarem aquela porta
e a poesia sair de suas mãos e escrever nossa história,
eu ficarei.

( De uma moça para um moço)



quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Sou cortes

         e cenários 
                     
                     da minha mais sensível 
                                                     
                                   e resistente     
                                         
                                                    existência.
De tanto amor,



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 transbordei a alma.



Simone Lacerda