quarta-feira, 26 de abril de 2017

Farta!



Cansada das frutas mofadas,
dos homens inertes,
das vozes sem som,
das mulheres e seus cortes.
Tanta coisa para arar
e cenários desmanchando,
gente propagando ecos,
verdades vendidas,
mentiras anunciadas,
idéias mercenárias.
Indecente é o homem de gravata
pernoitar seu caráter:
venda ou mate!
Sentenciar a morte,
revender a sorte,
negociar o povo.
Imoral  é ver a Nação
resignada,
massacrada,
renunciada.
Há flores no quintal,
sorrisos e abraços
bordados em tantos
e o sujeito em seu plano mais boçal,
calando a vida ( geral),
rabiscando os punhos,
refutando os mundos.
Desejo a melhor parte,
um mundo novo- sem gado.
Homens sem amarras,
que não descartam a esperança,
nem tão pouco descascam a face.
Quero dos dias a justiça,
a ressurreição da crença,
o amparo para a ausência,
a resistência para a luta
e a coragem para isso tudo.



sexta-feira, 14 de abril de 2017

Poema feito para dizer o amor




Ela o esperava como todos os dias.
Acreditava que voltaria com a esperança saltando aos olhos e o coração em forma de sorriso.
As marés vieram, o Sol nasceu e se pôs,
a lua se colocou e tirou, imersa às estrelas.
Os homens noticiaram o começo e o porvir de tantas coisas; coincidências e revelações.
As mulheres se condoeram com os maus dizeres e as verdades arrastadas.
As meninas inventaram seu nome e decidiram qual seria seu melhor amor.
A violência e a paz desmistificaram suas origens.
Os discursos foram propagados e indecifrados.
E Ela o esperou.
Enegreceu o afeto.
Afastou- se da margem.
Inundou os olhos.
Elaborou velhos planos e casos.
E ele não voltou.
Não bateu na porta e nem lamentou.
Não decidiu viver em sobressaltos.
Nem quis revigorar o gozo.
Ele manteve- se na planície,
sem maremotos e curvas,
sem avessos e acasos.
Ela estava submersa em lembranças e toda sorte de desamor.
Ela manteve- se no escuso dos dias,
nos subterrâneos e subterfúgios dos indulgentes,
na balbúrdia configurada dos cenários.
E os cheiros esquecidos misturaram- se à poeira, ao vento que invadira a janela.
E não mais cabia o outro.
E, por ausência, houve o vazio, e, por espaço, houve a falta.
E não havendo ele, existiu, apenas, Ela.
Simone Lacerda

Vida e Morte: diálogos com o contemporâneo


Tantas notícias que me fazem querer desistir, que me permito rever quais as possibilidades teremos de um dia menos cansado e lastimável. Leio que mais pessoas ( quantas!) estão envolvidas em casos de corrupção, que mulheres continuam sendo vítimas de uma cultura machista repugnante, que muitas pessoas estão agonizando e morrendo por intolerância , que a crise econômica se alastra, enfim, sou “bombardeada” por notícias que me consomem e me enchem de náuseas.
Tenho, eu sei, a poesia como bálsamo, a qual me possibilita rever meus caminhos e estabelecer as âncoras indispensáveis a meus mares. A arte revigora o que pode ser extraído do caos e das desordens sociais. Mas, acordar e encarar esta realidade bárbara, me enche de ressaca.
A ganância liquidifica o sujeito em vieses escusos e grotescos, torna-o refém de idéias rasas e mesquinhas. Corromper-se é enveredar por caminhos descampados e soturnos demais, cujos destinos são os mais delinquentes cenários.
A intolerância e a ausência do respeito desenham o indivíduo como prisioneiro de si mesmo, pertencente a prisões sujas, mofadas e infiltradas por bactérias que deflagram a falta de olhar para o próximo e revelam o que de mais ácido podemos ser.
É incabível termos sujeitos que se inundam de si mesmo, sem, contudo, perceber a dor do outro, ou melhor, pouco lhe impactam ter ou ver a agonia do pertencente ao mesmo grupo. Falta demais poesia!

Minha alma não suporta mais essa indigestão social e moral. Estou de luto pelos desamores instalados neste mundo, enquanto pessoas vendem e compram felicidade no instagram como objeto de luxo e precisamente descartável. “ Aqui jaz a contemporaneidade.”      

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Fênix


Dei para admitir que saudade é sentimento que cresce. E que esperança é o vislumbramento de um dia menos doído. Caço palavras que comportem emoções em meu peito para que tenha o que colher e ofertar como possibilidade. Nada de sacralizar o que não tem encantamento e propagar vozes ecoadas, sombras de um discurso, talvez.
Ter vontades de amor é a aversão do medo, da ausência que permanece sempre. Gosto de tornar-me afeto e desejo de quem busca um novo olhar e uma poesia que salte ao peito. De quem me desenhou por perto, mesmo que por horas ou por uma vida de tantas décadas.
Sou poeta de vocabulários e de desdizeres, do que é inaudito e costurado nas camadas do coração. Tenho perplexidades e lucidez, guardo receios e gosto de comungar com as linguagens, com o que é evocado quando se sente. Nada de camuflar sentimentos e do que pulsa aos berros na alma. É preciso dizer o que há possibilidade de ser sentido.
Não há vida e amores sem humanidade e existência, embora muitos só se permitem viver. Não se declaram e não se prescrevem. Não se delineiam nem tão pouco constroem. Não escolhem caminhos e não invadem fronteiras. Só ali, na beira, na espreita de um sentimento linear e vago.
Se há entraves, que perpassemos e sejamos tantos nós. Deixemos a verossimilhança e avancemos as vertentes, sejamos mais amor e tenhamos mais amor. Sejamos o que não propusermos ser e idealizemos em outros cenários, acreditemos no fomentado pela emoção, pelo acaso, tão importante para que desconstruamos o óbvio, a casca mofada, a fatura admitida na vida.
Tenhamos o poema reinventado de uma vida menos burocrática. Sejamos a voz e não coro. Negligenciemos o envelhecimento dos sonhos e das vontades. Desejemos mais e mais mil vezes. Abrilhantemos nossos olhares e sorrisos para o melhor de nós. Nada de orações sem afluentes e poética ressequida por espírito sem gozo. Nada de subterrâneos e departamentos. Deflagremos os vazios.

Agora, que tenhamos o desejo e o objeto. Vivamos, embora em desamparos, a alegria das chegadas e partidas, e a melhor manhã de todas. Cresça nosso jardim e nossos versos cadenciem uma vida repleta e cheia de inconstâncias. Uma vida que morra e nasça tantas vezes sejam   necessárias e importante.      


Resultado de imagem para foto de mulher rindo na sombra