sábado, 7 de fevereiro de 2015

Com licença, mulher!

“Quando nasci um anjo esbelto,/desses que tocam trombeta, anunciou:/ vai carregar bandeira./Cargo muito pesado pra mulher,/esta espécie ainda envergonhada. Começo este texto, com o excerto poético  de Adélia Prado ( Com Licença Poética), com a intenção de tratar de um assunto do qual me sinto bem à vontade: o universo das mulheres.Gosto de poetizar tal questão sem esquecer o gosto crítico também.
Acredito que, nós, mulheres, conseguimos nos desvencilhar de muitas questões que nos oprimiram por muito tempo, conseguimos romper muros tão bem construídos para que não ultrapassássemos ou quebrássemos à força. Conseguimos decretar, a duras penas, nossos gostos, desejos e objetivos, embora, ainda, estejamos inaugurando estradas e alicerces.
Lutamos demasiadamente pela liberdade de comandar nosso próprio corpo e, o que é melhor, nosso cérebro, emancipando-nos  enquanto atrizes reais de nossa  própria história e recriando universos, antes tão masculinizados.  E, com um toque feminino, ficaram bem mais bonitos e elegantes.
Embora nosso cargo ainda esteja pesado e tenhamos que hastear muitas bandeiras diariamente, sinto-me orgulhosa e desafiada a prosseguir com todas as conquistas, tentativas e lutas assumidas pelo ser delicado, porém forte demais. Parafraseando Caetano Veloso, sabemos, bem, a dor e a delícia de ser quem somos  ( música Dom de Iludir). E, ao longo da história, sabemos que a “guerra” feminina  para a sua expansão não foi ação desavisada.
Dado isso, podemos vislumbrar seus desdobramentos na contemporaneidade. Hoje, infelizmente, a figura feminina tornou-se refém de muitas questões. Ao observar as mídias, vemos uma cobrança exacerbada para que essa  personagem caiba em padrões de estética incabíveis, deflagrando-se como um objeto para saciar o consumismo imposto pelas indústrias.
Ainda, vemos uma mulher que deseja, a qualquer custo, colocar-se nos mesmos patamares masculinos há um tempo tão criticados por nós mesmos. Acredita-se que, cometendo os mesmos “vícios”  presenciados em alguns homens, será capaz de alcançar a tão querida igualdade. Homem e mulher são ricos nas suas diferenças e nuances. Devemos lutar por direitos igualitários sim, referindo-se ao nível intelectual, acadêmico, profissional e político, porém, tenho presenciado muitas mulheres se perderem nessa condição de igualdade, lançando-se, muitas vezes, nos precipícios da promiscuidade, imoralidade e desencantamento.
Lanço-me, então, aos questionamentos acerca das nossas conquistas e o que algumas mulheres têm cometido, contrário a tudo que bravamente alcançamos. Não pretendo legitimar questões morais até porque cada ser humano arca com as suas ideias e atitudes. Todavia, desejo alinhar a discussão ao papel da mulher para a condução da humanidade e aos embates femininos assumidos no decorrer do processo social, maximizando nossa importância para que haja uma sociedade justa e igual, sem nos perder em discursos pseudofeministas e midiáticos e sem perder nossa delicadeza, tão particular e encantadora.    


* Texto publicado no jornal Folha do Espírito Santo - 30/01/2015.