Nossa
ferramenta diária
Gosto de abastecer
pessoas. Gosto de retribuir com os achados que catei entre mundos e
jardins ou que foram conseguidos com muitas lutas. Conhecer é
encantador, mas dói, exige enfrentamentos e a retirada das sujeiras
da covardia. E, desses enfrentamentos, aparo frestas e quinas e trago
para o outro o que ficou de presente.
Acredito que já temos
cortes o suficiente para continuar trazendo lanças ou disputas
desiguais nas corridas da vida. Desejo poesias de inspirações, de
amores que estão amanhecendo, de gente de estrela nos olhos. É por
isso que luto diariamente. É nisso que fortifico minha escrita, a
forma de me desprender das maldades e ter esperança nutrida.
A leitura e a escrita
permitem que não neguemos o mal, porém, que saibamos dialogar com
as marés e recondicionar o que nos aflige e nos causa paz. O
conhecimento alimenta a fé nas pessoas, a reflexão diária para
onde caminhamos diante de um mundo mutável e catastrófico.
Vemos a intolerância, o
desrespeito, a maldade, a vingança ganharem cenários. Vemos também
atos de altruísmo, de felicidade, de carinho, de gentilezas. E o que
pretendemos preservar? Acredito que desejamos permanecer com as
flores, mesmo que murchem, que queremos a justiça inflamada nos
olhos e nas atitudes e o companheirismo nos abraços coletivos.
Conhecer faz de nós
seres singulares, pulsantes, os quais sempre se dispõem a renascer,
a se inventar. A palavra deflagra, polemiza, reconstrói, ameniza,
dignifica. Ela lança as redes e oferece novos portos, ela aproxima e
redesenha os olhares para os invernos, as memórias, as expectativas
de um amanhã ensolarado.
Lembro com lindeza de
meus autores que utilizaram seu discurso para ferramenta de crítica,
instrumento de liberdade, aprimoramento de ideias, recortes de
anunciação e dilemas, poesia que ilumina a vida e traz canção
para a alma, desenhos de sujeitos, enfim, para que o mundo não se
conformasse nem tão pouco o homem se tornasse mecânica de manobras
e alienações.
Escrevo para que eu tenha
remédios, a fim de que meus cenários não se desbotem e eu consiga
ver, bem mais que os olhos me sugerem. A escrita possibilita que meus
naufrágios não me superem, que minha morte seja renascimento, que
minha fala potencialize minhas crenças e meus espaços tenham poesia
para que eu possa me apoiar quando muitas coisas estiverem em
desordem.
Então, como presente de
inverno, ofereço a minha escrita, a minha poesia diária para que
não murchemos nem permaneçamos nos marasmos que o cotidiano nos
oferece. Não dissolvamos nossos achados, nossas vontades de ter dias
mais encantadores. Conheça, busque muito de si e oferte o que fez de
ti este indivíduo tão espetacular. Leia, informe-se, escreva,
produza e ressignifique o melhor da humanidade.