Nosso epitáfio
Somos
agraciados todos os dias pela vida. Sentimo-nos humanos porque somos capazes de
respirar, sentenciar e pensar. Ao longo da nossa história, aprendemos, erramos,
superamo-nos, lançamos expectativas, descosturamos perspectivas e damos, novamente,
os passos, como um constante costurar e desfazer a linha. Mas, temos como
certeza traçada a morte. Dela, não conseguimos nos esquivar, disfarçar seu tom,
iludir e desinteressar.
Chega
o dia que vamos nos escapar. A vida escorrerá e colocaremos um ponto final na frase produzida durante o fio da vida por nós.
Estamos em um novelo que se consome, todos os dias, e que, um dia, não o
teremos. E nisso não há divisão. Se, hoje, vemos a sociedade construída sobre patamares econômicos, nos quais muitos
valem pelos bens financeiros que possuem, a morte é capaz de acabar com todos
eles.
É
nela que nos mantemos iguais, com todas nossas mazelas e insuficiências. A
morte é a resposta da vida. A cobrança pela nossa humanidade. O resultado de
uma vida inteira. Não a vejo como punição, mas como a verdade para que não
sejamos tão egoístas, prepotentes, vazios, arrogantes e ausentes. Morrer é
esvaziar-se de toda nulidade, de toda indiferença, de toda rispidez e
mesquinharias.
Ela
sustenta as desimportâncias de uma vida vazia, corrupta, triste,
individualista. Nela, não há dinheiro, altivez, mentiras, posição social,
beleza externa, enfim, nossas misérias que gostamos de ressaltar, de registrar
nas ações mais grosseiras, mais inúteis. A morte, não aceita por todos, é a
afirmação de toda uma vida. Andamos acelerados, devagar, imprecisos ou certos
para que, a qualquer momento, encontremo-la no virar da rua. E de que valeram os passos? O que deixamos?
São
indagações fundamentais para que mudemos a partir de agora, para que reflitamos
o que construímos sobre nós, pois será isso que se manterá nos outros, nas
memórias, nos exemplos, nas conversas memorativas, nos pensamentos que nos
farão resistir. Não mais em carne, mas em lembranças, em legados.
Já
dizia a canção ( Nuvem Passageira- Hermes Aquino) que somos nuvens passageiras,
somos cristais, que, portando de uma vida delicada, poderá quebrar a um
instante. Como somos frágeis, não? E tanta gente cometendo atrocidades, vivendo
da enganação alheia, retirando os direitos do seu semelhante, deturpando ideias
e verdades. Tanta gente que se enche de vazios; de intolerância, desrespeito,
abandono, ignorâncias, de não gentilezas e afetos.
Alimentamos
o discurso que sabemos da presença da morte, das suas sondagens, porém, na
prática, não validamos que a vida e morte estão em linha tênue, em
desconstruções, em lacunas diárias. São estes dois hemisférios que podem nos
tornar emblemas, iconoclastas como também
desprezo,dores. Em qual hemisfério temos convertido nossos dias? O que
ficará para que não morremos também nos olhos, nas vidas daqueles que
resistirão a mais dias?
A
morte é a canção do dia que atingirá a cada um de nós. Todos viveremos a
expressão final, a última frase, o ciclo nos confiado no momento que fomos
retirado do “paraíso perdido”. Nossa passagem reside nos encontros e
despedidas, no que nos tornamos e deixamos, nos abraços e nas lágrimas. Não
apequenemos nosso mundo, não endureçamos nossa existência porque o que nos restará
será: Aqui, jaz um homem.
Texto publicado no Jornal Espírito Santo de Fato ( 16/06/2016)
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