Caro
amigo,
É
com ar de lamúria- e excesso de cansaço existencial- que proponho
dizer a você o que anda acontecendo conosco. O que temos “engolido”
e, indispostos, temos estado em náuseas e enjoos de uma vida nada
amena.
Nossa
política tem sujado a bandeira-pátria. São algozes e mercenários
a favor, não da sociedade e Estado, mas de seu próprio umbigo. São
maníacos do poder egoísta e nefasto, que desejam, somente, saciar
seus desejos mais sombreados e sorrateiros. São desejos que sujam de
sangue e de mau-caratismo o que restou de democracia e de construção
social igualitária e altruísta (esta desconhecida por eles).
Meu
amigo, vivemos um jogo lascivo de intolerâncias e pseudo liberdade,
no qual somos julgados e retalhados ( com cortes profundos) por
pensarmos e agirmos às margens. Por estarmos de encontro ao que
querem dizer com nossas vozes.
Eles
consideram inviáveis “estar fora da caixa” e relativizar
dilemas, reflexos e seus espelhos. Para eles, considerar é apenas
suposição e, segundo suas ordens, os critérios devem estar
estabelecidos, sem qualquer hipótese de deflagração.
Caro,
não tem sido fácil andar por entre as pólis, navegar em mares não
navegáveis e divagar sem nenhum peso. O fracasso é, para eles, a
assinatura de canalhice e covardia, não mais o que tantas vezes
consideramos até em canções e poemas o reverso das velhas
andanças. Não mais as tentativas de aprumar o barco nem uma nova
possibilidade.
É
danoso estar entre tanta gente barata, que se dispõe a dar seu preço
em relações que são desenhadas como negócios e construções de
impérios. Ter que inventar um sorriso enquanto a alma agoniza
ensebada de frustrações por apoteóticas intolerâncias e fantasias
de respeito.
É
amigo, sei que sua ausência é pernoitada em minhas sensações.
Reclamo sua presença porque a inviabilidade de jardins e seus
perfumes tem se mantida pulsante em minha emudecida existência.
Minha voz tem se calado e o silêncio tem sido, constantemente, o som
mais alto e rompante que costumo ouvir.
Estamos,
neste tempo, revestidos de um anestésico que é capaz de diminuir
nossos batimentos, desacelerar o que corre nas veias e retardar
nossos propósitos. Assumo estar enclausurada por estes portões e me
mantido entre as cortinas que, muitas vezes, é o meu único
esconderijo.
Continuo,
aqui, esperando sua volta, embora tenha uma certa compreensão de que
seu momento não virá; você continuará perplexo em seu próprio
cenário esperando que os homens recuperem a memória de seu tempo,
que ficou tão perdido. Ah, continuo desejando uma poesia que acorde
todos eles. Desculpe por ainda acreditar.
Um
abraço na sua alma que me inspira.
Simone
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