Ausente pós-moderno
Naquela
segunda- feira, como era rotina, subiu as escadas para adentrar o local tão
somente, antes, imaginado. Ali, gostaria de ouvir os melhores verbos e as
expressões mais doces. Fazia questão de se apresentar o mais lindo possível
para o encontro tão detalhado minutos antes.
Sem
pestanejar, trocou de perfume, mordeu frutas roxas e vermelhas, desamassou sua
camisa e verificou a carteira. Não poderia se desenquadrar do cenário, tão bem
colocado e com mobília recém-comprada.
Sentou
em um sofá com aspecto acinzentado e recriou a chegada da pessoa para habitar o
espaço, tão bem construído em seus recentes desejos. Tudo deveria harmonizar-se
para que houvesse, certamente, uma chegada.
Ao
ouvir cadência de passos, revigorou, em si mesmo, as sensações que mais trariam
para si um gosto de felicidade. Tendenciou não
reagir a sua chegada, mas as mãos suadas desvendavam tal proposição. Era
quem esperava, por mais que acreditasse nas tantas mentiras, mas, que para seu
corpo de homem, representasse um querer por certo ordinário e com riscos de
contentamento.
Percebeu
no corpo, tão definitivamente feminino, um gosto amargo de quem não estava
confortável no tal encontro. Trocaram restos de palavras e, sem explicar,
disseram coisas da estação; falas do cotidiano inventado por ambos.
Ele
estava gritando por dentro, é certo. Nas quinas da casa, não se sentia a
presença dos dois. Eram solitários que desenhavam companhias, eram seres que
não concretizaram o olhar. Depois, de várias tentativas, as vontades foram
dissipadas.
Ele
desceu, com maestria, as escadas que, por um tempo, quis pisar e , nesta exata
hora, tornaram-se percalços em sua garantia de um amor tranquilo. Importou-se
menos consigo e com possibilidades de um sorriso. Era um homem perdido nas
tardes, nas inconstâncias de uma invenção temporal pós-moderna, nas ausências que determinaram
acontecer.
* Texto publicado no Jornal Espírito Santo de Fato ( 19/07/2015)
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