quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Recortes
Ela construiu o espaço esquecido no sótão. Comprou objetos e reinventou entradas estratégicas, não sabendo se terá tempo para a recomposição. Talvez adote um jeito simples de entrar neste cenário.
Com os pés descalços, a alma úmida e o vento incorporado ao rosto, teve a certeza  de que poderá se revelar e nem negar o sexo como forma de amor.Sob essa vertente, olhou a porta, porém sentiu que ainda está se preparando para receber mais de si e de outros que não conheceu.
Assumiu ser uma mulher mais bonita e perfumada, tendo por escapes outras partes masculinas. Adentrou, com propriedade naquele espaço, cantando modinhas e recitando, com encantamento, os mais tristes versos. Não desejou olhar para trás nem tão pouco compreendeu que daria conta de tudo em um só dia.
Penetrou de mansinho mesmo com a intenção de mergulhar por completa. E sentenciou as ideias que teimavam visitá-la. Ao seguir o cenário deixado no quarto, segurou o antigo relógio e esperou o desejo alcançá-la, como a amante espera o seu objeto de saciedade.
Viu-se no espelho e percebeu faltarem cacos para colar. Não negligenciou sua imagem, embora existissem faltas. Resistiu que chegaria o inverno e, mais uma vez, teria que abrir o armário para a retirada do cheiro de naftalina. Sem contestação, aproximou-se do que era perturbador e quis livrar-se desse esquecimento. Ela aprimorou seu desejo de feminilidade.
  
* Obra de Cláudia Santos, intitulada "Meu sorriso verdadeiro"

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