Recortes
Ela construiu o espaço esquecido no sótão.
Comprou objetos e reinventou entradas estratégicas, não sabendo se terá tempo
para a recomposição. Talvez adote um jeito simples de entrar neste cenário.
Com os pés descalços, a alma úmida e o
vento incorporado ao rosto, teve a certeza
de que poderá se revelar e nem negar o sexo como forma de amor.Sob essa vertente,
olhou a porta, porém sentiu que ainda está se preparando para receber mais de
si e de outros que não conheceu.
Assumiu ser uma mulher mais bonita e
perfumada, tendo por escapes outras partes masculinas. Adentrou, com propriedade
naquele espaço, cantando modinhas e recitando, com encantamento, os mais
tristes versos. Não desejou olhar para trás nem tão pouco compreendeu que daria
conta de tudo em um só dia.
Penetrou de mansinho mesmo com a intenção
de mergulhar por completa. E sentenciou as ideias que teimavam visitá-la. Ao
seguir o cenário deixado no quarto, segurou o antigo relógio e esperou o desejo
alcançá-la, como a amante espera o seu objeto de saciedade.
Viu-se no espelho e percebeu faltarem cacos
para colar. Não negligenciou sua imagem, embora existissem faltas. Resistiu que
chegaria o inverno e, mais uma vez, teria que abrir o armário para a retirada
do cheiro de naftalina. Sem contestação, aproximou-se do que era perturbador e quis
livrar-se desse esquecimento. Ela aprimorou seu desejo de feminilidade.
* Obra de Cláudia Santos, intitulada "Meu sorriso verdadeiro"
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