O trágico e a estrela
“Vivendo
e aprendendo a jogar/nem sempre ganhando/nem sempre perdendo/mas aprendendo a
jogar”(Guilherme Arantes) música interpretada, impecavelmente ,pela musa Elis Regina costuma inundar meus
pensamentos quando me sinto pensando sobre como nós, seres humanos, somos
plastificáveis. Temos uma capacidade de nos reinventar sempre que a maré
investe contrário, sempre que nosso livro precisa de edições e capítulos.
Esta
semana, conversando com uma personagem real, dessas que habitam nossas ruas,
ouvindo trechos de sua história com caracteres de superação, percebi, talvez
com mais tinta, como somos seres passíveis de tanta coisa. E a letra musicada
ecoou em meus ouvidos, mais ainda, nas camadas da minha alma.
A
superação vence a covardia e o conformismo. Ela grita que nossa plasticidade
inaugura projetos e construções. A gente, destemidamente, vai aprendendo a
jogar, colocar as cartas na mesa e onde mais puder. Aprendemos que subir nas
árvores não é tão mirabolante e difícil, e criar raízes basta dedicação nos
ajustes da terra e das regadas.
Somos
trágicos por natureza e isso não pode cristalizar a nossa maior vontade. Estar
acima um pouco de você mesmo lhe oferece a chance de ver um pouco ou muito
melhor. E, com a visão apurada, o enfrentamento com o invisível e o
imponderável é mais fácil. Acrescentamos a isso, experiência, que transforma
qualquer um de nós em exclusividade.
Superar-se
faz de todos um indivíduo e possuidor de um legado insubstituível. E é o
legado, digo aos meus inestimáveis discentes, que nos tornam únicos e duradouros, visto que a vida é curta.
Nesse legado, pluralizamos nossa palavra
e existência.
Não
pretendo comercializar a palavra superação, como muito se vende em anúncios de
TV e programas de auditório. Considero-a, nestas linhas, como motivo de reflexão,
haja vista ser um dos grandes “milagres humanos”. Busco-a como ferramenta para
se desbravar o que vive à espera em nós.
Revigoro-a como fruto esquecido ou de tanto tirado do pé, sem esperar o tempo,
encontra-se ao acaso.
Neste jogo, nem sempre transparente, que é
vida, é preciso tornar-se funcional e invencível, pois, sem ares de superação,
inspirar se torna insustentável. Então, que arregacemos as estimadas mangas e
destronemos a passividade e todo compromisso com o neutro e o nulo. Superar
requer compreender o trágico como parte da construção da ordem, pois o caos nos
ajuda a gerar a estrela, já dizia Nietzsche. Muito sábio, não?
Texto publicado no Jornal Espírito Santo de Fato
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