Tarde de sábado. Já passam das 16h00 e nada foi alterado. Esperei, pacientemente, com minha angústia nauseante e nem mesmo fui avisada que engoliria ausência. Desceu queimando e fui tomada de ressaca. Ressaca da vida, do amor mal-amado , das tardes que insistem acumular poeira e das noites taciturnas. Eu mesma estou muda, plácida, com gosto de desprezo grudado na boca. Não adianta colher flores raríssimas se não tenho como cuidar. Minha mãe sempre contestava isso; "gosta de planta, mas não sabe tratar dela". O mundo está cheio de personas assim: não sabem cuidar. Desejam beijos rosados, sorrisos com batom bem vermelho, conversas nobres e dizeres baixinhos, pele colada, pernas entrelaçadas, posições inventadas, prazer a dois, todavia, não tentam costurar desejo a afeto. Acham improvável construir discursos de amor e acordar ao lado em êxtase. Resolvi que meus emaranhados estarão sozinhos, estarei, por certa, acolhida em meu quarto; rabiscando paredes, traçando pinturas em meus quadros sempre por terminar, compondo versos e tecendo contos que exaltam a falta da palavra, a desordem dos sentimentos e os personagens não acabados. Já se passaram 20:00 h e,ainda, converso aqui, muda, sem ninguém, com as partes sobradas de um jantar, com o verso de Hilda Hilst que transborda aflição, sem saber se espero ou provoco o nada, com a imagem do espelho ressequida e amarga. Sei que invento os poemas mais sórdidos e escritos sob forte intuição para quem sabe, hoje, mais tarde, ou amanhã, ou,talvez, daqui mil anos, eu possa ler ou declamar. Para quem esperei tanto, desde sábado.
Gente... Que delícia de texto! Forte como vc! Compartilhei da mesma angústia ontem, mas td se resolveu no fim da tarde!
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ResponderExcluirObrigada, flor!!! Você é maravilhosa!!!Compartilhamos sempre do caos e da vida plena. Beijocas!!
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