sábado, 12 de dezembro de 2015

 Tarde de sábado. Já passam das 16h00 e nada foi alterado. Esperei, pacientemente, com minha angústia nauseante e nem mesmo fui avisada que engoliria ausência. Desceu queimando e fui tomada de ressaca. Ressaca da vida, do amor mal-amado , das tardes que insistem acumular poeira e das noites taciturnas. Eu mesma estou muda, plácida, com gosto de desprezo grudado na boca. Não adianta colher flores raríssimas se não tenho como cuidar. Minha mãe sempre contestava isso; "gosta de planta, mas não sabe tratar dela". O mundo está cheio de personas assim: não sabem cuidar. Desejam beijos rosados, sorrisos com batom bem vermelho, conversas nobres e dizeres baixinhos, pele colada, pernas entrelaçadas, posições inventadas, prazer a dois, todavia, não tentam costurar desejo a afeto. Acham improvável construir discursos de amor e acordar ao lado em êxtase. Resolvi que meus emaranhados estarão sozinhos, estarei, por certa, acolhida em meu quarto; rabiscando paredes, traçando pinturas em meus quadros sempre por terminar, compondo versos e tecendo contos que exaltam a falta da palavra, a desordem dos sentimentos e os personagens não acabados. Já se passaram 20:00 h e,ainda, converso aqui, muda, sem ninguém, com as partes sobradas de um jantar, com o verso de Hilda Hilst que transborda aflição, sem saber se espero ou provoco o nada, com a imagem do espelho ressequida e amarga. Sei que invento os poemas mais sórdidos e escritos sob forte intuição para quem sabe, hoje, mais tarde, ou amanhã, ou,talvez, daqui mil anos, eu possa ler ou declamar. Para quem esperei tanto, desde sábado.




3 comentários:

  1. Gente... Que delícia de texto! Forte como vc! Compartilhei da mesma angústia ontem, mas td se resolveu no fim da tarde!

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  2. Obrigada, flor!!! Você é maravilhosa!!!Compartilhamos sempre do caos e da vida plena. Beijocas!!

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