Felicidade
é uma palavra buscada muito por nós em tempo de contemporaneidade. Resistir aos
impasses do cotidiano e sentir-se como valente em meio ao caos nos permite
sonhar com essa palavra ensurdecedora. Procuramo-la nos cartazes de cinema, nas
trilhas de novela, nos romances fáceis, nos livros de autoajuda e teimamos
desenhá-la . Planejamos seu começo, suas características e suas sensações.
Consumimos
para tentar ser feliz e nos banalizamos para tentar também. Lemos a respeito,
pronunciamos palavras de aproximação para que a nossa felicidade nos alcance
como alvo e seta. Sentenciamos
resultados, bradamos gargalhadas, choramos, ignoramos problemas e insistimos
nos amores de sucesso e insucesso.
A
felicidade, para alguns, é objeto de liquidação, para outros, a economia de uma
vida inteira, até que consiga aquilo. Equacionamos e reelaboramos momentos de
felicidade e esquivamo-nos das crises. Claro
que, com elas, achamo-nos perturbados e
distante da “dita cuja.”
Inventamos
tarefas e ocasiões para ratificarmos: somos felizes. Descortinamos desejos,
impregnamos perfumes e criamos perspectivas, com cuidado para não revelar os
desassossegos e o obscuro que teimam em morar em nós.
Ser
feliz não é tarefa fácil, mas não é uma fórmula matemática. Em um mundo de
desconstruções e perturbações, ser feliz é reinvenção. É estar em descoberta,
uma flor pronta a desabrochar. A felicidade é o belo do ser humano, mas sua
capacidade de conversar com o
improvável na tênue linha do habitável e do caos. Da presença com a ausência.
Entre o amor, a raiva e a saudade.
Aprendemos
que a felicidade tem desenho próprio e cada um apara suas arestas. Ser feliz é
ser sozinho, é ser com outros, é está nas pessoas e, assim mesmo, visitar-se
todos os dias. Felicidade é inaugurar-se continuamente, é anunciar sua
capacidade de superação.
Quando se é feliz, torna-se habitável para
sentimentos e seres. Sua casa está completa, mesmo que falte algum tijolo ou
objeto de decoração. É saber que nada é sentenciado e tudo está por refazer. Ser
poesia na prosa, abertura de caminhos, ser multidão ao mesmo que solidão. Não
há versos prontos, não há manual de instruções, só sentimentos.
A
felicidade é o abraço forte, de perder o fôlego, é a revelação de marés e
ressaca, é o olhar descomedido e apaixonante, é o recado deixado de manhã, é
visita de alguém especial, é o sorriso sem querer, é cachorro abanando o rabo,
é poema lido que inebria, é doce esquecido na geladeira, saudade que dói, mas
alimenta, é declaração de amor, de alegria, é carinho trocado, é encanto pela
natureza, é guardar emoção e vivê-la depois bem baixinho, é acreditar que ,na
desordem, reconstruímos espaços ainda
não sentidos e vistos, é a dor sem doer. Enfim, a felicidade é um ser que
habita sua alma, mesmo que ainda sem moradia. Então, seja muito feliz.
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