quinta-feira, 15 de maio de 2014

Felicidade



Felicidade é uma palavra buscada muito por nós em tempo de contemporaneidade. Resistir aos impasses do cotidiano e sentir-se como valente em meio ao caos nos permite sonhar com essa palavra ensurdecedora. Procuramo-la nos cartazes de cinema, nas trilhas de novela, nos romances fáceis, nos livros de autoajuda e teimamos desenhá-la . Planejamos seu começo, suas características e suas sensações.
Consumimos para tentar ser feliz e nos banalizamos para tentar também. Lemos a respeito, pronunciamos palavras de aproximação para que a nossa felicidade nos alcance como alvo e seta.  Sentenciamos resultados, bradamos gargalhadas, choramos, ignoramos problemas e insistimos nos amores de sucesso e insucesso.
A felicidade, para alguns, é objeto de liquidação, para outros, a economia de uma vida inteira, até que consiga aquilo. Equacionamos e reelaboramos momentos de felicidade e esquivamo-nos das crises.  Claro que, com elas, achamo-nos perturbados e  distante da “dita cuja.”
Inventamos tarefas e ocasiões para ratificarmos: somos felizes. Descortinamos desejos, impregnamos perfumes e criamos perspectivas, com cuidado para não revelar os desassossegos e o obscuro que teimam em morar em nós.
Ser feliz não é tarefa fácil, mas não é uma fórmula matemática. Em um mundo de desconstruções e perturbações, ser feliz é reinvenção. É estar em descoberta, uma flor pronta a desabrochar. A felicidade é o belo do ser humano, mas sua capacidade de conversar  com o improvável na tênue linha do habitável e do caos. Da presença com a ausência. Entre o amor, a raiva e a saudade.
Aprendemos que a felicidade tem desenho próprio e cada um apara suas arestas. Ser feliz é ser sozinho, é ser com outros, é está nas pessoas e, assim mesmo, visitar-se todos os dias. Felicidade é inaugurar-se continuamente, é anunciar sua capacidade de superação.
 Quando se é feliz, torna-se habitável para sentimentos e seres. Sua casa está completa, mesmo que falte algum tijolo ou objeto de decoração. É saber que nada é sentenciado e tudo está por refazer. Ser poesia na prosa, abertura de caminhos, ser multidão ao mesmo que solidão. Não há versos prontos, não há manual de instruções, só sentimentos.


A felicidade é o abraço forte, de perder o fôlego, é a revelação de marés e ressaca, é o olhar descomedido e apaixonante, é o recado deixado de manhã, é visita de alguém especial, é o sorriso sem querer, é cachorro abanando o rabo, é poema lido que inebria, é doce esquecido na geladeira, saudade que dói, mas alimenta, é declaração de amor, de alegria, é carinho trocado, é encanto pela natureza, é guardar emoção e vivê-la depois bem baixinho, é acreditar que ,na desordem, reconstruímos  espaços ainda não sentidos e vistos, é a dor sem doer. Enfim, a felicidade é um ser que habita sua alma, mesmo que ainda sem moradia. Então, seja muito feliz.


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